Prof. Edson Pereira
Karl Barth, Vida e Teologia
Introdução
Nossa dissertação tem
pelo menos três objetivos. Primeiro faremos um abordagem biográfica de Barth.
Segundo, sobre sua Teologia Dialética e por último sobre como ele concebia a
Palavra de Deus.
I.
Karl Barth – uma biografia
Em Basiléia na Suíça dia 10 de maio de
1886 nasce um menino que seria considerado o maior teólogo do século XX seu
nome é Karl Barth. Cresceu em um ambiente protestante de viés reformado e de profunda
dedicação à teologia e à pregação. Seu pai inclusive ensinava teologia em Berne
onde Barth passou sua juventude e seu avô foi pastor de uma pequena comunidade
em uma aldeia suíça que ficava situado às margens do Reno denominada de
Pratteln. Depois de estudar em Berne Barth estudou nas universidades de Tübingen,
Marburg e Berlim na Alemanha. Na aldeia de Safenwil Barth exerceu seu
ministério pastoral que seria fundante na sua teologia. Depois foi professor de
teologia nas cidades alemãs de Göttingen, Münster, e Bonn. Em Bonn por não
aceitar a ideologia nazista foi expulso desta universidade e voltou a Basileia
onde ensinou teologia de 1935 a 1962 ano em que se aposentou. Faleceu em 1968
com 82 anos (MILLER; GRENZ, 2011 p. 13-14).
Podemos definir a teologia de Barth
pelo menos em três momentos. O primeiro se da no contexto da teologia Liberal
vigente naquela época denominado de método
positivo, pois era o método usado pela teologia liberal que seguia o
pensamento iluminista que tinha como pressuposto a razão. Este método entedia que através da pesquisa
cientifica e racional fosse possível conhecer a revelação de Deus inserida nas
escrituras. Em segundo lugar temos o método
dialético que é caracterizado ou influenciado por dois pensamentos
filosóficos. O primeiro é a dialética do pensamento de Kierkegaard que tinha a
oposição e a negação daquilo que é humano e uma mudança completa dos
pressupostos da razão e a recepção cega da palavra a partir da revelação. Em
segundo temos a dialética de Hegel em que Barth fará uma interpretação menos
parcial. Por isso ela se revestirá de elementos negativos e positivos
característicos da filosofia hegeliana entre o eterno movimento do não e do sim
ou vice e versa. E por último sem negar a dialética temos a analogia da fé que consistia na
revelação graciosa de Deus como fator fundamental para se interpretar a Palavra
de Deus (MONDIN, 2003, p. 54-60).
Outro ponto interessante, a partir de
suas experiências comunitárias como pastor é que Barth vai desenvolver seu
pensamento teológico. O primeiro ponto que queremos destacar é sua decepção com
liberalismo teológico e mais especificamente seus professores dentre eles Harnack
e Hermann que apoiaram as ideologias das políticas de guerra do Kaiser.
Segundo, era que se fazia necessário elaborar uma teologia dialógica e por isso
contextual que atendesse as necessidades vigentes da comunidade e por último,
Barth dentro de uma perspectiva socialista e igualitária luta a favor dos
pobres trabalhadores em Safenwil que eram explorados e por causa disso ele foi
denominado de pastor vermelho. Sua obra Carta aos Romanos é fruto deste
contexto (MILLER, 2011, p 17-18).
Barth foi escritor profícuo. Suas
obras podem ser divididas em obras exegéticas, históricas, dogmáticas e
políticas (MONDIN, 2003, p.43 – 45). Segundo Miller:
A
quantidade de livros que os teólogos contemporâneos fizeram brotar de suas canetas,
máquinas de escrever e processadores de texto pode ser comparada às águas do
Nilo em época de cheia. Karl Barth, porém, sem sombra de dúvida bateu o
recorde. Não bastasse a imensa pilha de
livros que escreveu, Barth também é autor da monumental Dogmática eclesiástica: treze volumes, nove mil páginas, oito
milhões de palavras e que ele deixou inacabada por ocasião de sua morte!
Dizia-se que Barth deveria ter tinta nas veias, em vez de sangue. (MILLER;
GRENZ, 2011 p. 16).
II.
Karl Barth – Teologia Dialética
A
teologia Dialética foi uma escola teológica em que os temas prementes foram discutidos
e analisados. Dentre aqueles que faziam parte desta escola podemos citar Karl
Barth, F. Gogarten, E. Thurneysen, E. Brunner e G. Mertz e R. Bultmann.
Elaboraram uma revista chamada Entre
Tempos (Zwischen den Zeiten) órgão pelo qual este movimento tornou
conhecidas suas posições e reflexões teológicas (COLLANGE, 2004, p. 243) que
contrastava a teologia liberal da época que resumia o cristianismo apenas a
aspectos culturais, políticos e sociais. Por isso a Teologia Dialética procura
contrapor a ideia de se querer conformar ou criar um tipo de relacionamento
harmonioso entre Deus e o ser humano, a revelação de Deus e a razão que segue
os pressupostos do iluminismo científico, a comunidade cristã e a cultura
vigente. A dialética Barthiana serve como catalizador teológico deste contexto,
pois busca perceber o porquê das tensões, antagonismos e desacordos. Por causa
da revelação de Deus a condição do ser humano é vista de forma negativa e
contrária à vontade de Deus. Por isso os seres humanos estão debaixo do juízo
divino que eclode em uma crise no interior humano. A teologia de Barth é também
chamada de Teologia da Crise. Característico deste seu pensamento é sua obra Carta aos Romanos, neste livro a distância
entre Deus e o ser humano é infinita (ROOS, 2008, p. 977).
Para Barth Deus é denominado
como o Totalmente Outro, ou seja, Ele transcende o ser humano em todos os
aspectos. Todavia Deus se manifesta em Cristo e mostra por meio da sua Palavra
a forma de termos acesso a Deus. Cristo,
portanto é resposta positiva, ou seja, o sim Deus para as nossas
contrariedades, pecados, falhas que é caracterizado pela negatividade. Ao ser
humano é negada a possibilidade de se conhecer a Deus a partir do mundo
natural, cultura e do ser humano especificamente em decorrência de sua
lastimável condição. Sua teologia despreza a Teologia Natural que é a Teologia
do Ser mais propõe uma teologia em consonância com a revelação de Deus
denominada de Analogia da Fé. Para ele era impossível que o ser humano através
dos seus esforços pudesse alcançar o favor de Deus. Barth afirma que este tipo
de postura é característico das religiões. Neste sentido a teologia de Barth é
de movimento descendente. É Deus que em sua graça e misericórdia vem por meio
de Cristo salvar o ser humano (ROOS, 2008, p. 977).
III.
Karl Barth – Palavra de Deus
Para
Barth o motivo pelo qual versa a teologia dogmática é a Palavra de Deus.
Seguindo a linha dos reformadores como Lutero e Calvino ele entende que a
Palavra de Deus tem um sentido bem mais amplo do que o das Escrituras. Ele
considerava a Escritura como um testemunho e sinal da Palavra de Deus revelada.
Barth definia a Palavra de Deus como um conjunto completo da automanifestação de
Deus, isto significa que a Palavra de Deus abrange toda a dimensão do ser da
Revelação. A automanifestação de Deus é absoluta, extraordinária e inédita. Ela
é percebida a partir de três momentos: a revelação, a Bíblia e a pregação. No
primeiro momento temos uma manifestação divina, ou seja, o momento em que a
Palavra de Deus torna-se substância através da revelação de Cristo. Em segundo,
a Bíblia é meio em que podemos trazer a memória o acontecimento de Deus
revelado em Cristo. Nela podemos buscar e viver na expectativa da revelação
futura. Por último temos a pregação. Que é definida como a proclamação do
evento ocorrido no tempo e no espaço pelo qual Deus tornou e faz conhecido por
meio da Igreja (MONDIN, 2003, p.63-64.).
‘ Em
cada uma das características ou formas da Palavra de Deus ela pode ser
simultaneamente alocução, ato e mistério. Na alocução Deus fala através de
elementos físicos como: pregação, palavra escrita ou pela natureza humana do
Verbo. Segundo, é ato, ou seja, sua ação pode ser verificada em três momentos
diferentes mais que estão intrinsicamente relacionados: na revelação Divina por
meio de Cristo, na profecia e apostolado e na Igreja e pregação que se
movimenta com o testemunho profético-apostólico. E no mistério temos uma
dimensão profunda e indescritível da Palavra de Deus que impossível à mente
humana compreendê-la ou alcança-la. Para Barth a Palavra de Deus tinha algumas
qualidades que a teologia clássica geralmente atribuía a Deus, a saber:
singeleza, invisibilidade, maturidade, elevada espiritualidade e sublimidade (MONDIN,
2003, p. 64-65).
Considerações
finais
A teologia de Barth pode ser
considerada como dialógica, pois é fruto de um contexto pastoral e neste
sentido comunitário, sociopolítico e teológico em que o teólogo passa por três
momentos na elaboração da sua teologia. O positivo, dialético e analógico da
fé. Com destaque para o dialético que passou por duas etapas de concepção
filosófica. A primeira foi sob a influência de Kierkegaard e a segunda sob
Hegel. Por fim temos a Palavra de Deus como à soma completa da automanifestação
de Deus que pode ser vista na Revelação, na Bíblia e pregação.
.Bibliografia
COLLANGE,
Jean-François. In:
LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário critico
de teologia. São Paulo: Paulinas: Edições Loyola, 2004.
MILLER,
E. L.; GRENZ, J. Stanley. Teologias contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2011.
MONDIN,
Batista. Os grandes teólogos do século vinte. São Paulo: Editora
Teológica, 2003.
ROOS, Jonas. In: FILHO, Fernando Bortolleto (Org.).
Dicionário brasileiro de teologia. São Paulo: Aste, 2008.